quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Contagem decrescente, parte III: sair de casa (e tudo o que trás consigo)

É talvez a coisa que mais assusta e te dá uma subida de adrenalina tremenda: o (finalmente!?) sair de casa e poderes explorar o mundo sob as tuas regras.
Tinha 17 anos (quase 18) quando me aventurei nisso. E, como se não bastasse sair de casa para estudar numa universidade, fui além das minhas espectactivas e passei a fronteira.
Quando tudo o que sonhas é usar capa e batina um dia e não consegues a nota para isso (digo, para o curso que queres), pode tornar-se algo frustrante ter que sair do país para seguir o sonho. "Só foste porque quiseste!", podes pensar tu. E é verdade: só fui porque quis. E sabes quê? Voltaria a fazer tudo de novo :)

Quando finalmente te vês livre das regras dos pais e queres soltar ao mundo tudo o que vales...bem, há que conter tanta energia de vez em quando.

- Money, money, money! Rapidamente vês que não é tão fácil gerir um depósito mensal. Sim, há que impôr limites a ti mesma. Sorte ou azar, sempre fui poupada (às vezes até demasiado...). E sou demasiado organizada ao ponto de apontar tudo o que gasto diariamente (é sério...nem que seja 0,60€ num café). Isso mantém-me controlada a mim e à minha conta. Mas nunca me privou de me mimar um bocadinho: uma roupita aqui, um acessório ali, jantar fora de vez em quando...é tudo uma questão de gestão.
- Have we met? Conheces mil e novecentas pessoas novas, queres dar-te com todas e fazer amizades rapidamente e não seres excluída de nada nem por ninguém. Mas sabes quê? Há quem se reinvente para seguir esse trilho e, na minha opinião, não é a melhor maneira de viver. As pessoas vêm e vão tal qual as estações do ano. E os que consideras parte de ti talvez não sejam tão tu quanto pensas. E sempre tive uma, digamos, estratégia para isso: manter-te à margem. Ser tu mesma e não o que os outros querem que sejas. Nunca fingir ser alguém que não és. Crescer de acordo com as tuas crenças, os teus prós e contras e sempre, mas mesmo sempre, ser-te fiel. Os que são e os que têm que ser, ficam. Porque esses são os que te vão querer com todo o teu pacote.

- Sex, drugs & rock n roll! Bom...é a altura em que mais tentação vais ter. E se o considerares como uma maneira de integração, facilmente és levada por esse caminho. Nunca achei mal experimentar fosse o que fosse (claro, sempre com moderação) e estaria a mentir se dissesse que nunca experimentei ou que não me sentisse tentada a. Mas tendo em conta o meu feitio não muito fácil de lidar e entender, teria que haver um timing perfeito para tal. Sou feita de muitas regras e fugir-lhes não é o meu forte. Mas tenho que admitir: sofrer um pouco de rebeldia faz muito bem a todos.
- Kitchen nightmares! Para mim, a pior parte de todas. Não tenho paciência para cozinhar. Mas a verdade é que não podes passar o tempo todo a comer fora (gasto de dinheiro imcomportável), nem podes sempre comer pizza ou hamburgers (embora não me importasse nada). Portanto, o melhor mesmo é aprender a fazer o básico para sobreviver. Claro que, os fins-de-semana em casa fazem a mamã encher um saco de tupperwares e isso resolve a questão por uns bons dias. Mas, visto que não estarás sempre a viver com a mamã e o papá, haverá uma altura da vida em que terás que começar a ser tu a preparar os teus manjares. E eu acredito que um dia eu terei vontade de começar a entrar mais no espírito da cozinha...só que hoje não é o dia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Contagem descrescente, parte II: os anos de Universidade

Fui daquelas que saiu de Portugal para seguir o sonho da vida: Medicina.
Primeira vez que saí de casa, e ainda por cima para um país estrangeiro onde tudo o que sabia falar era o que tinha aprendido num curso de Verão...
E verdade verdadinha...faria tudo de novo. Talvez só mudasse ou a faculdade ou fosse mais vezes para fora.
- Consegui um Intercâmbio de quase um ano no Brasil e foi a melhor experiência que tive até hoje. Cheguei lá a chorar e saí de lá inconsolável. O povo brasileiro é demasiado quente a receber e mesmo sabendo que eu estava ali à nora, a primeira coisa que fizeram foi fazer a típica piadinha de português e convidar-me para festas! Viver aquela faculdade foi um sonho e cada vez mais tenho vontade de voltar para lá. Fiz amizades que sei que são para a vida e não posso esperar para as ter de novo perto de mim.
- Consegui também 9 meses de intercâmbio numa outra faculdade espanhola...mas essa eu não trocava pela minha. Nesse ano foi quando conheci mais de Espanha e o que me fez pôr para trás todo o ódio que lhe tinha. Afinal Madrid é muito mais do que aquilo que eu pensava. E Barcelona...sou suspeita por falar porque é a minha cidade de sonho.

Os anos na Ciudad Dorada (como é muitas vezes chamada) tiveram de tudo um pouco. Muito desespero e agonias (e cada ano que passava o stress era cada vez pior), muita muiiiiiiiiita festa (aquela cidade é a perdição para sair à noite) e, o principal de tudo: amig@s para vida. Aqueles que formam a minha "Familia Salamanca" e que são o melhor do melhor que a cidade me deu.

Vida de universitário não é fácil (ou então é, e nós é que na altura achamos que é tudo complicado e que ninguém nos entende). O stress que nos comanda é gigante, ainda para mais numa altura em que tudo o que vemos é notícias de profissionais portugueses a irem para fora trabalhar. E se tiveres que ir para fora do teu país estudar...tens só um bocadinho mais de pressão acrescida.
Mas há algo interessante nos anos que passas fora (e para os que conseguem ir de erasmus é capaz também de se aplicar a coisa): alargas o teu horizonte de tal maneira que o mundo já não te dá tanto medo. Estás disposta a ir para onde quer que seja, desde que consigas trabalhar e ter uma vida estável. A vontade de voltar à terra-mãe ainda a conservas, mas a tua prioridade deixa de ser essa.

No meio disto tudo, foram muitos os altos e baixos que sofri. Até que, graças a um ano no Brasil e muita muita paciência dos meus pais e do meu irmão, o meu lema passou a ser "Tudo é possível. É preciso é ter calma." E acreditem que funciona mesmo! ;)

PS: sim, são os meus pés!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Contagem decrescente, parte I: o fim de um ciclo

Sempre achei que aquilo a que chamavam "A crise dos 25 anos" fosse drama de alguma e outra pessoa e que eu nunca iria passar por isso...até hoje. Acordei e pensei "Sábado faço 25 anos...25 anos..." e comecei a sentir algo a revolver dentro de mim. Não foi necessariamente um sentimento de tristeza, mas acreditem que vos leva a repensar toda uma "vida" que já passou, e o que está ainda por vir. E se pensar em tudo o que perdi e ganhei ao longo de todos estes anos...o saldo sai bastante positivo, felizmente :)

Começando do fim para o princípio, aos quase 25 anos acabei o meu curso (YEY ME!). 
Setembro foi um mês de loucos. Lutar foi a palavra de ordem, o que me levou a afastar de vez "desistir" e derivados do meu dicionário. Eu tinha que conseguir, e realmente deu tudo certo! E quando finalmente chega o fim, é um peso enorme que tiras de cima das costas. Mas aí vem outro ainda maior: o mercado de trabalho. Esse sim, assusta-me e não é pouco! Mas, para já, a minha profissão ainda me assegura qualquer coisa (até o dia...).
Mas voltando atrás...no dia D o que ganhei foi um completo estado de choque de tal maneira que as primeiras palavras que saíram da minha boca foram: "E agora, o que é que eu faço?". Felizmente não estava sozinha e essa alguém me disse "Se calhar podias ligar aos teus pais, não sei!...". Entre que nem mãe, nem pai, nem irmão me atendiam, foi a minha prima que desatou num choro espectacular e eu a consolá-la.
Programa de festejos? Nenhum. Fotos desse dia? Nada mais do que duas beldades em plena Plaza Mayor a comer um belo de um gelado de iogurte (não resisto a gelados, nem que esteja a nevar!).
"E hoje, como te sentes por finalmente teres acabado?" Para ser totalmente honesta, não sei. Acho que só quando me vir frente a frente com a realidade é que vou acreditar.